Nenhuma dessa opções pois o que você está dizendo não irá acontecer.
Não importa o que eu acredito ou não acredito. O que importa são os fatos e as provas e elas são incontestáveis. Perguntas sobre esse tema já foram feitas várias vezes aqui no Y!Respostas.
Farta lista de evidências e argumentos sobre as viagens a Lua podem ser encontradas nos sites abaixo:
http://homepages.wmich.edu/~korista/moonhoax.html
http://www.redzero.demon.co.uk/moonhoax/
Recomendo a leitura do texto abaixo:
Lunáticos negam que o homem tenha pisado na Lua por Cláudio Tsuyoshi Suenaga, Mestre em História pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Assis
“Há duas classes de tolos: os que não duvidam de nada e os que duvidam de tudo”.
(Sabedoria popular)
“Essa história não passa de mais um spam bobo que colocaram na net. Para nós, simples mortais, não faz a menor diferença se os americanos chegaram na Lua ou não. Desde que eles não tirem ela do lugar e joguem nas nossas cabeças, já esta ótimo... à claro que você tem todo o direito de acreditar na farsa da Lua, assim como tem direito de achar que o Bill Gates é o Demônio reencarnado, que o Brasil vendeu a Copa de 1998 pra França, que Elvis não morreu...”
(Rodrigo Salvatore, do site “Fala Zé”: www.falaze.cjb.net)
A Internet é uma formidável propagadora de fofocas, boatos, lendas urbanas e modismos por excelência, e antes de sua insurgência nenhuma outra mÃdia lograva fazê-la com tanta velocidade e eficiência e em escalas tão amplas. Essa rapidez na difusão de tantas mentiras, farsas e bobagens, a maioria inconseqüente, inocente e bem humorada, mas muitas delas desrespeitosas, deseducantes, mórbidas, prejudiciais e até potencialmente perigosas e mortais, é o que impede que sejam rebatidas e contrapostas a tempo de evitar que adquiram proporções de “febres” e “ondas”, e é disso que se valem desde os simplórios gozadores, passando pelos mistificadores, até os larápios, charlatães, aproveitadores, estelionatários e golpistas de toda estirpe, para montarem seus esquemas vultosos e aplicarem seus lucrativos golpes, que contam quase sempre com a voluntária, graciosa, crédula, ingênua e inocente participação e colaboração dos próprios internautas que costumam embarcar nesses “papos” na firme convicção de estarem prestando inestimáveis serviços à humanidade.
“De boas intenções”, como diz o velho e sábio adágio, “o inferno está cheio”, e como “nasce um trouxa a cada segundo”, não faltam aqueles dispostos a servirem de cúmplices e de “mulas” no tráfico (ou tráfego) da rede. Em seu livro HospÃcio virtual,1 André Viana reúne uma profusão de coisas cômicas, insanas, inusitadas e sem fundamento que andaram circulando pela Internet, como a que ensinava a técnica de modular filhotes de gato dentro de garrafas. No final de 2000, e-mails em tom de indignação começaram a lotar as caixas de mensagem falando dessa suposta moda nova-iorquina de fabricar e criar animais de estimação em formato de vasilhame, conforme ensinado em detalhes por um estudante do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) no site “bonsaikitten”. Apesar do tom de brincadeira das “instruções”, à base de muita tiração de sarro, no estilo “Casseta & Planeta”, muitos acreditaram no besteirol e detonaram uma massiva campanha de protestos injuriados conclamando os colegas a engrossarem a “corrente solidária do bem”.
Infelizmente, maluquices desse gênero continuam pululando à velocidade da luz e em escala geométrica, e nesse momento certamente milhares estão sendo ludibriados, sub-repticiamente ou não, por algo nonsense, o que certamente faria a festa de Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, autor, no final da década de 1960, do famoso Febeapá, o festival de besteira que assola o paÃs,2 se vivo estivesse. A Internet em pouco tempo alçou ao posto de maior fonte de dados, informações e conhecimentos, concorrendo e em simbiose com arquivos, acervos, museus, bibliotecas, institutos culturais, universidades, centros de pesquisa, revistas, jornais etc., mas entre suas bilhões de páginas, como na vida ordinária, há uma profusão de lixo e de inutilidades que convém, em nome da higiene profilática, da ecologia, da eficiência e da reengenharia, evitar, separar e reciclar.
Um dos mais recentes modismos “conspiranóicos” em voga, como se não faltasse mais nada e nossa paciência para agüentar estultices e imbecilidades fosse inesgotável e infinita, é o de referendar os que apregoam peremptoriamente e com uma autoridade e certeza perturbadoras – reeditando a cisma de nossos avós – que os norte-americanos jamais pisaram na Lua! O pior é que esses indivÃduos apresentam-se como se houvessem inventado a roda ou descoberto o fogo, obliterando que se trata de uma velha “teoria conspiratória” – do tempo em que nem sequer se havia forjado esse termo – que jamais teria ganho os ares de escândalo e os foros de “verdade” não fosse... a Internet!
Colecionador do que chama ser “toda sorte de evidências” – fotos tiradas pelos astronautas, detalhes de engenharia, discussão de fÃsicos etc. –, Bill Kaysing, um excêntrico “cientista” norte-americano, foi um dos primeiros a vislumbrar esse filão lucrativo, considerando que pelo menos cerca 20% dos norte-americanos duvidam da viagem à Lua, segundo apontam as pesquisas de opinião. Já em 1995, logo no inÃcio, portanto, da popularização da Internet, Kaysing saiu do ostracismo afirmando que todas as idas à Lua, começando pela histórica façanha transmitida ao mundo em 20 de julho de 1969, assistida por 600 milhões de terráqueos embevecidos, não passaram de uma enorme fraude da NASA. A gloriosa foto da pegada em solo lunar seria meramente uma mentira desenhada no deserto. Em vez da Lua, os astronautas teriam pisado nas areias de Nevada, não por acaso na mesma área apontada pelos ufólogos como sede de uma base governamental subterrânea ultra-secreta (Ãrea 51) para esconder e testar naves extraterrestres acidentadas. Alguma novidade nisso?
Não. Desde o final da década de 1970 a NASA tem sido obrigada a conviver com a desconfiança e rechaçar seus detratores, despendendo um tempo precioso com explicações elementares. E quem mais contribuiu para isso, involuntariamente ou não, foi a própria indústria cinematográfica de Hollywood – que paradoxalmente tanto alimentou o imaginário e estimulou a ida do homem ao espaço nas décadas anteriores – ao lançar em 1978 o filme Capricorn One (Capricórnio Um), do diretor Peter Hyams. Apesar do roteiro e da produção fracos e dos personagens não muito bem caracterizados, os efeitos visuais e os argumentos soaram convincentes pelo menos para uma parcela do público que ficou encafifada com a história da missão tripulada a Marte que, naquela fase já não tão quente da Guerra Fria, é encenada em um estúdio pela NASA para enganar a opinião pública. Depois que a missão real falha, saindo fora do previsto, agentes de setores obscuros do governo – antecipando o clima de Arquivo X, série que, aliás, muito contribuiu para semear a paranóia e conferir “credibilidade” e “seriedade” a todo tipo de “conspirações” – entram em cena para caçar e assassinar implacavelmente os astronautas e impedirem que revelem a verdade ao povo.
Os convictos defensores da teoria da farsa, em suma, alegam que na época a NASA não tinha capacidade técnica (!) para alcançar a Lua; em contrapartida, os EUA, em desvantagem na corrida espacial – desde que os soviéticos colocaram o primeiro satélite artificial em órbita em 1957 e o primeiro homem no espaço em 1961 –, à s voltas com a Guerra Fria – e amargando fracassos polÃticos como a desastrosa invasão da BaÃa dos Porcos em Cuba e a prolongada guerra no Vietnã, tinham razões polÃticas de sobra para ratificar sua supremacia tecnológica e precisavam desesperadamente de um feito heróico marcante como alcançar a Lua para vencer mais uma batalha contra a ex-União Soviética e por extensão o comunismo. Colocar um homem na Lua era menos um feito histórico do que propriamente uma forma de ratificar a supremacia norte-americana para o resto do mundo, deixando patente que não existia paÃs mais poderoso na face da Terra. Estrategicamente, era por demais importante que as palavras de Kennedy se tornassem reais.
Entre a leva de suspeitas, as que se referem à atmosfera lunar são as mais intrigantes. Se há vácuo, por que a bandeira norte-americana aparece tremulado nas fotos? Se não há atmosfera e o céu é preto, por que as fotos não mostram um horizonte de estrelas? Se as imagens foram feitas em pontos separados por quilômetros de distância, por que sempre mostram o mesmo lugar? Além disso, correm rumores de que o incêndio na nave Apollo 1, que matou três astronautas, foi uma ação criminosa para calar Gus Grissom (morto junto dos colegas Roger Chaffee e Ed White), que ameaçava contar toda a verdade sobre a farsa do projeto espacial.
Ditas e colocadas dessa forma, para um leigo tais questões soam de fato bastante convincentes. Muitas outras dúvidas lançadas na Internet soam mais convincentes ainda. Não somos os mais habilitados a respondê-las, ainda mais uma por uma, o que ocuparia dezenas de páginas de cansativas e áridas explicações técnicas de fÃsicos, quÃmicos, engenheiros, especialistas em óptica, fotografia etc. e demandaria uma inútil perda de tempo, já que provavelmente nem assim os negadores da Lua e seus acólitos, dispostos a teimarem renitentemente em suas posições, ficariam inteiramente satisfeitos, imbuÃdos que estão das imagens e dos sÃmbolos do pensamento ingênuo e das aparências sensÃveis fornecidas pela experiência espontânea que constituem intransponÃveis “obstáculos epistemológicos”, termo cunhado pelo filósofo francês Gaston Bachelard (1884-1962) na década de 1930, que faz referências à quelas certezas (deduzidas tanto do saber comum como também do saber cientÃfico) tão arraigadas que tendem a impedir toda ruptura ou descontinuidade no crescimento do saber cientÃfico e, por conseguinte, constituem obstáculos poderosÃssimos para a afirmação de novas verdades. Eis porque Bachelard preconiza uma estratégia do corte epistemológico, sendo o filósofo o que trabalha na retificação do saber.
Quanto à s “discrepâncias” apontadas nas imagens, para não ficar só nas poucas fotos aludidas, tivemos o cuidado de assistir e rever vários documentários das missões Apollo, inclusive das últimas, ao nosso ver as mais interessantes pelo background adquirido após o primeiro pouso na Lua, e convidamos todos, na medida do possÃvel, a fazerem o mesmo, até porque são bastante instrutivos e despertam sentimentos nostálgicos. à sobejamente curioso verificar que nos filmes a maioria das ditas “discrepâncias” simplesmente desaparecem, e a menos que sejam montagens primorosas e, portanto, falsas clamorosas, cujos efeitos especiais não foram até hoje igualados nem mesmo por George Lucas, que certamente adoraria aprender tais técnicas, por si sós derrubam os argumentos que se restringem à s fotos.
O cineasta norte-americano Stanley Kubrick (1928-1999), desde que faleceu, vem sendo sistematicamente difamado pelos negadores da Lua que, ignorando sua biografia e seu legado, o acusam de ter colaborado com os mentores da farsa dirigindo pessoalmente os filmes das missões Apollo. Até uma foto apócrifa em que só uma parte de sua suposta testa aparece, meio escondida, atrás de um astronauta, em um estúdio, é apresentada como prova “cabal” de que ele seria o homem por trás dos efeitos especiais. Das duas uma: ou a testa que ali aparece não é de Kubrick ou essa foto, que ninguém sabe como foi obtida, é uma montagem tão amadora, pobre e simplória, provavelmente feita à s pressas com um programa tipo “Photoshop”, que seu autor sequer ousou inserir o rosto ou o corpo inteiro do cineasta, o que denotaria a fraude. à natural e tentador associar o nome de Kubrick à “farsa da Lua”, já que apenas um ano antes lançou 2001 – A space odissey (Uma odisséia no espaço), com efeitos especiais nunca vistos antes na história do cinema! Logicamente, esses efeitos especiais poderiam muito bem ter sido utilizados pelo governo dos EUA para forjar uma viagem do homem à Lua... Inspirado no conto The sentinel, do escritor britânico Arthur C. Clarke, autor do roteiro com Kubrick, o filme, ambicioso e pessimista, pretendia-se uma sÃntese da história humana desde os tempos pré-históricos até a era espacial, mas foi um fracasso de público e de crÃtica, talvez por seu ritmo lento e monótono e por sua complexidade, até hoje a principal queixa dos que não conseguem entendê-lo. Se marcou a ficção cientÃfica com sua arrojada concepção visual, rigorosa e realista construção dos ambientes futuristas e contemplativa e psicodélica visão do espaço, deixa muito a desejar, no entanto, em matéria de efeitos especiais, particularmente nos momentos em que mostra módulos espaciais pousando, justamente o quesito que mais importaria à NASA! Será que Kubrick, que demorou nada menos do que 4 anos para finalizar o filme e ainda assim não conseguiu agradar, em apenas um ano se aperfeiçoaria tanto a ponto de parecer tão convincente e enganar milhares de técnicos e cientistas e bilhões de espectadores? Os negadores da Lua garantem que sim, pois teria ele contado com as prestimosas verbas e ajudas da NASA...
Tentemos apenas por um instante imaginar o governo norte-americano comprando milhares de pessoas que integraram o Projeto Apollo, desde fÃsicos, engenheiros, administradores e chefes de seções, até simples apertadores de parafuso, servidores de cafezinhos e faxineiros, isso sem mencionar os repórteres, os fotógrafos e os cinegrafistas que documentaram a farsa da Lua. à claro que nenhum deles poderia contar nada aos seus familiares, colegas e vizinhos, como se o ser humano não tivesse o menor pendor para a fofoca! Pois bem, até hoje nenhum deles, e aqui descarto os que não se identificam devidamente mostrando suas credenciais, contou coisa alguma... Ã, devemos reconhecer que o ser humano é um ótimo guardador de segredos...
Antes da moda de negar o pouso na Lua – e os ufólogos mais antigos e os compulsivos navegadores da Internet sabem muito bem disso –, a moda era afirmar que os astronautas tinham visto e fotografado discos voadores e alienÃgenas no espaço sideral e na Lua. Neil Armstrong, Edwin “Buzz” Aldrin e companhia, que hoje são detratados porque nunca teriam estado na Lua, o eram antes porque teriam lá estado mas escondido a verdade acerca da existência dos extraterrestres ao povo... à mesmo inevitável. As pessoas estão sempre inventando e recriando versões estapafúrdias sobre acontecimentos históricos de acordo com os gostos e os modismos da época...
Em entrevista exclusiva a nós concedida, o fÃsico e cientista espacial carioca Cláudio Oliveira Egalon, 40 anos, um dos poucos brasileiros a trabalhar na NASA e a ter voado e feito experimentos (com fibra ótica) num avião KC-135, que simula a ausência de gravidade, e que, conforme admitiu, foi influenciado por Neil Armstrong em seu desejo de se tornar astronauta, declarou que “A missão Apollo foi o ponto auge da NASA. Foi quando a NASA recebeu a maior quantia de dinheiro. Até hoje não há nada comparado a missão Apollo. Grande parte do prestÃgio da NASA se deve a ela. Os teóricos da conspiração, ao não encontrarem provas da existência dos OVNIs e dos extraterrestres, costumam pôr toda a culpa na NASA e no governo, que são tratados como bodes expiatórios”.
A práxis mais recorrente dos negadores da Lua, e é aà que se revela um dos maiores furos de seus “métodos” inquisitivos, é o de apontarem as supostas mentiras ao mesmo tempo em que omitem, compulsoriamente, o que seriam provas da veracidade das expedições. A mais literalmente concreta dessas provas é uma coleção de oitocentas pedras lunares trazidas à Terra pelos astronautas. Desde então, os geólogos estudam as tais pedras. Por enquanto ninguém sugeriu que elas tenham sido extraÃdas na Antártida ou em uma pedreira qualquer no planeta Terra... As amostras de solo e rochas coletadas apontaram idades estimadas em 4,6 bilhões de anos, mais velhas, portanto, do que as mais antigas da Terra. Elas não contêm praticamente nenhuma quantidade de água ou óxido de ferro, indicando que nem água nem oxigênio livre deviam estar presentes quando se formaram, num passado longÃnquo. Apesar da insistente e intensiva prospecção promovida pelas diversas missões lunares, não se descobriu a existência de nenhum sinal de organismos vivos na Lua, nem mesmo na forma fóssil. Essa foi uma razão para que se eliminasse, a partir da Apollo 14, o perÃodo de quarentena a que eram submetidos os astronautas que de lá retornavam, pois temia-se uma contaminação provocada por um eventual organismo desconhecido que pudesse ser trazido com eles para a Terra. Mais recentemente, em 1998, a sonda Lunar Prospector encontrou água em forma de gelo em pequenas quantidades, depositada em várias crateras dos pólos lunares, proveniente da queda de cometas.
à um enorme equÃvoco reduzir a corrida espacial meramente à sua dimensão geopolÃtica e estratégica, como fazem, com uma parcialidade indecorosa, os “arautos da negação”, mitigando os avanços que proporcionaram à s várias áreas da ciência e da tecnologia e sem os quais não terÃamos muitos dos eletrodomésticos e dos artefatos que usamos largamente no dia-a-dia. Entre 1959 e 1976, as sondas das séries Lunik, Ranger, Zond e a seguir as missões Apollo incrementaram consideravelmente os conhecimentos que possuÃamos sobre a Lua. Depois da Apollo 11, foram realizadas mais cinco missões tripuladas bem sucedidas à Lua, a última em dezembro de 1972, com a Apollo 17. Só nesse perÃodo, para mandar os doze astronautas, o Congresso estadunidense liberou verbas na ordem de US$ 25 bilhões, e o projeto à Lua como um todo consumiu a bagatela de US$ 110 bilhões. Tudo não passaria de uma mera produção cinematográfica hollywoodiana?
O desembarque na Lua igualmente não pode ser visto e entendido como um mero subproduto da Guerra Fria ou como um empreendimento de uma década apenas, e sim como resultante de pelos menos cinco séculos de rigorosos experimentos e conhecimentos cientÃficos acumulados, compilados, combinados e aperfeiçoados por inúmeras mentes brilhantes e abnegadas. A epopéia da conquista espacial é rica em acontecimentos dramáticos, portentosos e em heroÃsmo silencioso. Não é obra de um só indivÃduo ou de um povo; somente por meio de uma cooperação universal que este imponente quadro do mosaico que é hoje a Astronáutica, pôde ser montado peça por peça.
Pressupostos e barreiras tiveram de ser derrubados sob o risco do pecado da heresia e das fogueiras inquisitoriais. O sistema do astrônomo, geógrafo e matemático Ptolomeu (100-160 d.C.), que punha a Terra no centro do Universo e que predominou durante toda a Idade Média, aos olhos do populacho reduzira-se, aos poucos, à concepção simplista segundo o qual o firmamento não passaria de uma série de esferas cristalinas e concêntricas. No centro, a Terra imóvel, em torno da qual a Lua, mais próxima, e o Sol, mais afastado, descreviam cÃrculos fixos. E mais adiante os outros corpos celestes, como acólitos da Terra. Para explicar os fenômenos observados no céu, em relação aos planetas, admitia Ptolomeu vários complicados movimentos que caracterizam os “epiciclos” e os “deferentes”, nem sempre fáceis de conciliar, com a observação. Por enquadrar-se na ordenação de mundo lastreada pela filosofia escolástica e pretendida pela Igreja Católica, o sistema é oficialmente adotado. Os teólogos cristãos adoraram a idéia de ocuparem, eles mesmos, o centro. Deus criara o mundo para girar em torno de suas próprias cabeças. A ninguém mais cabia o direito de duvidar da exatidão do modelo ptolomaico.
Enquanto que no Ocidente não se faziam estudos astronômicos, uma vez que do céu somente poderiam vir terrores __ como os cometas, prenunciadores de catástrofes __, no mundo árabe as pesquisas cientÃficas atingiam o ápice. De cálculos precisos surgiu um verdadeiro tratado geral de astronomia. Nas cidades ocidentais que ressurgiam no século XI, paralelamente ao renascimento comercial, estabeleciam-se intercâmbios intelectuais. A filosofia medieval resulta do encontro das tradições cristã, judaica, bizantina e árabe. No final do século XII, nascem as universidades em Oxford, Paris e Bologna, que se multiplicam em toda a Europa no decorrer dos séculos seguintes.
A chegada de Cristóvão Colombo à América, seguido por Fernão de Magalhães __ que com a sua viagem de circunavegação atesta a esfericidade da Terra __, obriga a aceitação de modos tão diversos de percepção quanto aqueles que despontavam aos olhos dos descobridores. Os conceitos referentes ao tamanho e a idade do Universo são completamente revistos e alterados. O progresso das ciências fÃsicas e naturais e a revolução no campo da astronomia projetam uma nova imagem de mundo, livre dos dogmas teológicos e dos entraves dos sistemas ptolomaico e aristotélico. A influência dos estudos de Platão e de Pitágoras é cada vez mais sentida. A empreitada de Colombo __ que levou à colonização maciça do novo continente __ e de outros navegadores marca não só a partida do homem ocidental rumo a conquista de toda a Terra, bem como abre perspectivas inéditas para que se lançasse para fora dela, em direção à Lua e à s estrelas. Em comparação, porém, com a extremamente arriscada e incerta aventura marÃtima de Colombo, a ida à Lua, apesar de igualmente épica, nem de longe se equipara, pois esta contou com um longo e requintado processo de planejamento e preparação e os auspÃcios de recursos tecnológicos com os quais o navegador genovês sequer podia sonhar.
“Não é por ser um encontro extremo, e exemplar, que a descoberta da América é essencial para nós hoje”, escreveu o Tzvetan Todorov em seu livro A conquista da América: a questão do outro.3 Além do valor paradigmático, ela possui outro, de causalidade direta. à a conquista da América que anuncia e funda nossa identidade presente. Apesar de toda data escolhida para separar duas épocas históricas distintas ser sempre arbitrária, nenhuma é mais indicada para marcar o inÃcio da Era Moderna do que o ano de 1492. Somos descendentes diretos de Colombo, é com ele que começa a nossa genealogia. Desde então o mundo está fechado, ao passo que o Universo abre-se infinito. “O mundo é pequeno”, declarará peremptoriamente o próprio Colombo. Os homens descobriram a totalidade de que faziam parte. Até então, formavam uma parte sem todo. Simultaneamente, a imagem geocêntrica de mundo concebida por Ptolomeu cede lugar ao sistema heliocêntrico de Copérnico. A vastidão do cosmos com suas mirÃades de sóis, planetas, luas, galáxias e nebulosas, penetra aos poucos na consciência do homem.
Em 1510, o astrônomo teuto-polonês Nicolau Copérnico (1473-1543) enuncia o sistema heliocêntrico __ que mais tarde ficaria conhecido como sistema copernicano __, deslocando a Terra para uma posição secundária. O Sol agora é quem ocupa o centro das órbitas circulares dos planetas. A obra principal de Copérnico, De revolutionibus orbium coelestium (Sobre a revolução das órbitas celestes) __, influenciada pela forma e ordenação do Almagesto de Ptolomeu __, publicada no ano de sua morte, não pode ser tomada, contudo, como inteiramente original, pois os gregos haviam antecipado vários pontos ali contidos. O mérito maior de Copérnico foi o de contrapor-se ao pensamento dominante da Igreja, instituição ao qual ele próprio pertencia, pois era cônego da catedral de Frombork. Tanto que fez questão de acrescentar à obra uma dedicatória especial ao papa Paulo III, a quem dirigiu estas magnÃficas palavras, que parecem feitas sob medida para os hodiernos negadores da Lua: “Provavelmente aparecerão aqueles que, apesar de desconhecerem as ciências matemáticas, julgar-se-ão no direito de opinar a respeito delas. Baseados em qualquer passagem da sagrada escritura, traduzirão mal, torcendo maliciosamente o verdadeiro sentido, de acordo com os seus propósitos, e se atreverão a condenar ou a perseguir a minha teoria! Estes eu desprezo completamente...”. Paulo III acabou proscrevendo a obra, que, banida pelo Vaticano em 1616, permaneceu na lista (Ãndex) das obras proibidas pela Igreja Católica até 1822.
Na obra De L’infinito, Universo e mondi, Giordano Bruno (1548-1600) jogaria a pá de cal na cosmogonia aristotélica ao desalojar o Sol, e não só a Terra, do centro do Universo. Enquanto a Igreja ainda pretendia que Deus teria podido criar vários mundos, mas preferiu criar apenas um, o monge dominicano concluiu que o Sol não passava de uma estrela como outra qualquer, dentre as inúmeras que se capacitavam a conter sistemas planetários e conseqüentemente vida. Defende a teoria da transmutação contÃnua de alguns corpos em outros. Recusa as assunções que pugnavam pela perfeita circularidade do movimento dos astros. Proclama a validade de todas as religiões e substitui Deus por cÃrculos e pontos. Em suas enfáticas palavras, a essência de seu pensamento, que custou-lhe o horror de ser queimado vivo pela Inquisição: “Uno é o céu, o éter universal, o espaço imenso, onde tudo se agita e move. Nele há uma infinidade de astros, sóis, planetas [...] Há, também, numerosas Terras girando em torno de seus sóis, não piores nem menos habitados do que o globo terrestre”.
Um dos fundadores da moderna astronomia, o alemão Johannes Kepler (1571-1630), corrigiu e aperfeiçoou o sistema de Copérnico. Na obra que lhe assegurou a imortalidade, Astronomia nova seu physica coelestis tradita commentariis de motibus stellae Martis ex observationibus Tychonis Brahe (1609), enuncia duas das três leis que ficariam conhecidas como as leis de Kepler, cálculos cinemáticos precisos do sistema planetário. A terceira lei divulgou-a 10 anos depois em Harmonices mundi. As condições polÃticas não andavam favoráveis a Kepler, o que o obrigou a partir de sua cidade natal. Em Praga, trabalhou com Tycho Brahe (1546-1601), professor de astronomia na Universidade de Copenhague e o maior expoente da astronomia posicional. Homem superior e de espÃrito independente, também foi vÃtima de calúnias e perseguições que o obrigaram a partir para o exÃlio.
Filósofo e matemático da corte, criador do método experimental na astronomia e responsável por inúmeros avanços nos campos da fÃsica e da ótica, o italiano Galileu Galilei (1564-1642) tomou conhecimento, em 1608, do invento do holandês Hans Lippershey. Entusiasmado, encomenda imediatamente um dos instrumentos, a luneta, que ele desmonta e aperfeiçoa, construindo uma capaz de aproximar os objetos em até trinta e duas vezes. Utilizando-a com argúcia, descobre que a Lua é repleta de crateras e montanhas e não um corpo liso e brilhante como queria Aristóteles, discerne as manchas irregulares do Sol, as fases de Vênus, a composição estelar da Via-Láctea, os satélites de Júpiter e os “braços” de Saturno (não chegou a ver os anéis). Galileu propugna a lei da queda dos corpos, fundamental à fÃsica e à mecânica celeste – que, aliás, foi definitivamente comprovada na superfÃcie e no ambiente cheio de vácuo da Lua pelos astronautas das missões Apollo, que fizeram questão de testá-la largando objetos de pesos dÃspares, que chegam ao chão exatamente ao mesmo tempo, conforme podemos conferir nos filmes. Lança os pilares da ciência moderna ao estabelecer a experimentação e a formulação matemática. Em 1615, a Igreja classificou as idéias de Galileu como “perigosas” para a fé dos cristãos e o intimou a comparecer em Roma, onde o advertiu de que deveria mudar seus ensinamentos. Mesmo assim, em 1632 publicou um livro expondo o que pensava. Empenhou-se com tamanho Ãmpeto a favor de Copérnico que, no ano seguinte, já idoso, acabou processado e condenado pela Igreja __ pela qual, segundo alguns, ele na verdade zelava. Galileu teve de comprometer-se, sob juramento, a jamais divulgar suas teorias, quer fosse por intermédio da palavra escrita ou falada. São emblemáticas as palavras que murmurou no momento em que viu-se forçado a isso: “Eppur si muove” (“E contudo se move”). Em 1638, fica cego no cativeiro, seqüela das longas observações que fizera do Sol. E em 8 de janeiro de 1642, deixa a vida para entrar na história como um dos principais responsáveis pela ampliação de nossa visão do Universo.
Em sua obra Galileo Galilei: um estudo sobre a lógica do desenvolvimento cientÃfico, o historiador da ciência Shozo Motoyama assinala que durante todo o Renascimento buscou-se obcecadamente um novo método cientÃfico. Os principais livros lançados à época, quaisquer que fossem os ramos, traziam ao menos uma alusão sobre a questão do método. O controle da natureza estava na ordem do dia. O próprio ato de pensar sistematicamente sobre o mundo natural e experimentar com seus elementos, favoreceu sobremaneira essa tendência.4
Aos que ainda insistem em duvidar da capacidade humana em realizar feitos extraordinários aparentemente “impossÃveis”, recomendo a leitura do livro O nascimento da ciência moderna na Europa, do historiador da ciência italiano Paolo Rossi. Enumerando uma série de convicções firmemente arraigadas que tiveram de ser quebradas – a duras penas, diga-se de passagem, e que agora ameaçam retornar com os negadores da ciência –, para que se chegasse à fÃsica clássica de Galilei e de Newton – posteriormente complementada e corrigida apropriadamente por Albert Einstein com sua fÃsica relativÃstica –, Rossi conclui que “A aparente obviedade de tais convicções foi um obstáculo enorme para a fundação da ciência moderna. Aquela obviedade não estava ligada somente à existência de tradições de pensamento que possuÃam raÃzes antigas e bem firmes, mas também à sua maior aproximação do assim chamado senso comum”.5
Os que trabalharam e formularam teorias e soluções durante a corrida à Lua, efetuaram experimentos em um mundo diferente do nosso, em que conviviam perspectivas que hoje nos parecem pertencer a mundos culturais totalmente dÃspares e que para as novas gerações – incluÃdos aà os negadores da Lua – soam inconciliáveis. Aquela época assistiu a uma evolução extraordinária da microeletrônica e da informática, que conduziria aos computadores de hoje. Só porque os cientistas de antanho não sabiam e nem podiam saber tanto quanto sabemos hoje, nem possuÃam equipamentos tão sofisticados, não significa necessariamente que não possuÃam as condições requeridas para levar o homem à Lua, sendo obrigados a aceitarem e recorrerem ao expediente da farsa.
Ao propormos uma reformulação historiográfica e acadêmica com a inserção de temas como a ufologia e sua rica casuÃstica, antes relegados ao plano marginal e mantidos intocados na condição de tabus, bem como ao encetarmos investigações e denúncias em larga escala de certos esquemas, manipulações, acobertamentos e conspirações governamentais, acabamos por inevitavelmente provocar e atrair algo não pretendido inicialmente, ou seja, o repúdio e a condenação de quem mantinha uma visão heterodoxa e por demais conservadora, de um lado, e a adesão incondicional de quem sempre pretendemos criticar por ir exatamente na direção contrária da ciência e aderir facilmente a um tipo de pensamento arcaico, mágico, mÃstico e religioso, preconizando o retorno a uma fase pré-moderna. Desnecessário dizer que o primeiro grupo seria composto por aqueles cépticos empedernidos, herdeiros e adeptos do racionalismo, do iluminismo, do positivismo e do cientificismo, enquanto o segundo grupo por aqueles que não perdem a oportunidade para difamar a ciência (dita oficial), uma vez que consideram que esta se desviara de seu rumo original e deixara de ser um bem para a humanidade, convertendo-se em arma e instrumento de domÃnio de governos e conglomerados poderosos.
Não concordamos com nenhum dos dois grupos e os rebatemos com freqüência, o que soa por vezes como uma afronta e não raro gera mal-entendidos a ponto de sermos ora apontados e acusados como defensores do primeiro, ora do segundo, dependendo do calor do momento, do estado de espÃrito e do agrupamento das tendências em curso. Cumpre lembrarmos e assinalarmos que não abrimos mão de mantermos uma postura independente e crÃtica frente à ciência e aos governos, denunciando os abusos e os erros cometidos quando preciso, mas nem por isso incorremos na adoção de posturas fanáticas, exageradas e sumamente equivocadas de clamamos por modelos exóticos, extravagantes, obtusos e ultrapassados. Os apologizadores destes últimos integram o grupo mais perigoso, já que com seus ferozes ataques ao fazer cientÃfico e ao papel da ciência na sociedade, e por extensão ao saber acadêmico, postulam a volta do irracionalismo, da paralisia niilista e do misticismo messiânico, e junto com eles a rejeição do caráter realista do conhecimento do mundo em prol de um imaginário fincado em raÃzes fantasistas.
Parece haver o propósito deliberado de infundir confusão e terror no grande público, de levar gente simples do povo ao máximo da tensão nervosa para não só amealharem favores e dividendos com o prejuÃzo da coletividade, mas também para vender livros, revistas e jornais que apenas circulam as expensas da exploração sensacionalÃstica de assuntos escandalosos ou fantasiosos. Não tenho medo de afirmar que a esmagadora maioria das “bombásticas” revelações dos negadores da Lua dadas a lume – ainda que tudo tenha sido uma farsa, isso se algum dia alguém de fato comprovar e a NASA admitir! –, senão todas, são absolutamente falsas, ou em outras palavras mais fortes: são torpemente inventadas, ou que é pior, plagiadas de neuróticos, paranóicos e extremistas norte-americanos pelos escroques que com isso visam somente faturarem dinheiro em cima da boa fé alheia e de quebra darem vazão aos seus egos inflados ocupando na imprensa espaços preciosos que caberiam a assuntos realmente importantes. Acolher idéias importadas desse tipo atesta toda nossa pobreza nacional, sobretudo em matéria de vergonha.
A infame teoria que nega a ida do homem à Lua, invariavelmente é sempre proposta, defendida e conduzida por indivÃduos medÃocres, de formação cientÃfica precária ou quase nula. De modo que o que eles pregam em sua cruzada da patifaria não resiste ao menor exame dos que possuem alguma cultura geral, por mÃnima que seja. Haja vista que até hoje nenhum nome respeitado e reconhecido dos meios cientÃficos, nenhum fÃsico, astrofÃsico, astrônomo, engenheiro, matemático etc. aderiu a ela, muito pelo contrário. Seriam todos eles estúpidos, idiotas e incompetentes e só os negadores da Lua é que seriam dotados de inteligência e razão o bastante para perceberam as fraudes? Notem que nem mesmo as alas mais conservadoras e reacionárias do catolicismo, do islamismo, do pentecostalismo, das testemunhas de Jeová etc., que teriam todos os motivos para negar que o homem teria pousado na Lua o fazem!
Se ante os leigos demonstram audácia, arrojo e atrevimento ao lançarem hipóteses atrás de hipóteses subestimando, achacando e difamando a ciência e os cientistas, catalisando parte do ressentimento – perfeitamente compreensÃvel, pois a ciência não está isenta de erros e de servir de instrumento negativo, dependendo de quem a controle – do grande público em relação ao saber oficial, já ante os cientistas, se convidados a um debate franco e aberto, empalidecem e se transfiguram em figuras titubeantes, sem argumentos porque nem sequer lhes é possÃvel fazer a menor sugestão por desconhecimento completo dos conceitos mais elementares a respeito, ou em outras palavras: por lhes faltarem elementos até para a formulação das mais basilares hipóteses cientÃficas!
Os negadores da Lua nada mais fazem do que assumirem posturas que a ciência moderna há muito tempo abandonou, apresentando “generalizações” de observações empÃricas ocasionais como “provas” da “verdade”, depreciando, desprestigiando e subestimando o fazer cientÃfico – e por extensão menosprezando nosso raciocÃnio, insultando nossa inteligência e capacidade de pensar! –, de modo a esvaziá-lo, e, nesse vácuo, injetarem altas doses de insensatez e desrazão. Reacionários disfarçados de revolucionários, reducionistas e totalitários, pretendem enquadrar tudo à s lentes desfocadas e obtusas com que vêem o mundo. à preciso esclarecer que eles não são cépticos na acepção do termo, mas cépticos ao inverso, ou seja, usam o prestÃgio dos cépticos (cientistas legÃtimos, em sua maioria) e da ciência para atacar o óbvio e celebrar o inexistente, “alimentando o gosto pelo fantástico até chegar ao ponto da alienação e da ignorância deliberada!”, como diria Lobo Câmara, autor de A farsa da Nova Era: nem Apocalipse, nem Era de Aquário.6
Não passam de pára-quedistas e aventureiros, saÃdos não se sabe de onde, mas que enquanto durarem seus “15 minutos de fama”, tratarão de aproveitar ao máximo para iludir, lesar e expropriar o maior número possÃvel de pessoas. Alguém aà se lembra daqueles mÃsticos que surgiram também de repente e não se sabe de onde e que garantiam que não precisarÃamos nos alimentar a não ser de ar e dos raios do Sol? Pois bem, enquanto durou o engodo, um sem número de pessoas foi ludibriada e convencida a pagar fortunas para aprender as tais técnicas de “captação e transmutação natural de energias cósmicas calóricas”, que com o tempo se mostraram tão impraticáveis quanto enganosas. Alguém aà por acaso sabe para onde foram esses estelionatários? Simplesmente sumiram da praça com os bolsos cheios de dinheiro e com a barriga cheia (não de luz, mas de comida substanciosa e suculenta de primeira e de verdade).
Desde o sucesso do filme Matrix, em 1999, aquela porção majoritária do público que nunca antes discutira ou sequer havia ouvido falar em conceitos como realidade virtual, simulacro e simulação, nirvana, maya, transcendência etc., passou a aceitar, sem maiores questionamentos e reflexões, tudo quanto fosse ataque, viesse de onde viesse, à realidade tal qual vivemos e concebemos, como se ela simplesmente não existisse! Concluir, portanto, que o homem nunca esteve na Lua, pois tudo é virtual e o que vemos é falso, seria a conseqüência lógica dessa premissa, assim como derrubar as torres gêmeas de Nova York (como pode ter passado pela cabeça dos terroristas fundamentalistas islâmicos) não representaria um ato tão sanguinário assim, já que tudo é um só jogo virtual e as vÃtimas entidades holográficas.
Recomendo a essas pessoas que não se restrinjam à s bobagens pasteurizadas e requentadas de Matrix, mas mergulhem nas fontes originais em que os roteiristas beberam, ou seja, estudos antropológicos, religiosos, mitológicos, psicológicos e filosóficos, mormente, quanto a este último, o francês Jean Baudrillard, que, mesmo à sua revelia, forneceu a maioria dos elementos do filme. Na acepção de Baudrillard, autor de livros referenciais como Simulacro e simulação (escrito ainda na década de 1970) e à sombra das maiorias silenciosas: O fim do social e o surgimento das massas,7 “Fazer advir um mundo real já é produzi-lo, já é algo como um simulacro”. Para ele, “o real nada mais é do que uma forma de simulação. O princÃpio de realidade é uma primeira fase, por assim dizer, do princÃpio de simulação. Meu postulado seria que não há real, o real não existe. Podemos objetivamente enquadrá-lo, fazer com que existe um efeito de real, de verdade, de objetividade, mas eu não creio no real. O virtual, nesse sentido, é apenas uma espécie de extrapolação extraordinária dessa tendência, que já é passar do simbólico, bem rapidamente, do simbólico ao real. Ao real que, de certa forma, é o grau zero do simbólico. O virtual, para mim, é um pouco o hiper-real, que foi meio recortado com a noção de hiper-realidade. Isto é, o mais real do que o real, no sentido de realidade virtual mesmo, aquela que seria perfeitamente homogeneizada, numerada, operacionalizada, aquela tomaria o lugar de outra parte porque é perfeita. Virtualmente perfeita. Podemos controlá-la totalmente, pois ela se torna digital. Não é mais uma realidade contraditória, é uma realidade perfeitamente controlável. Ela é, num certo sentido, mais objetiva do que a realidade, mais real do que o real. De fato, há uma ambigüidade, pois o termo realidade virtual é, ele próprio, muito ambÃguo. [...] Trata-se de um modo de desaparecimento do real, como o horizonte dos fenômenos da fÃsica. O virtual é o horizonte do real no sentido de que, no virtual, nada mais toma o lugar do real”.8 Parafraseando Baudrillard, com a devida licença e me desculpando por eventuais disparates, pergunto: não estariam os negadores da Lua pretendendo sobrepor suas visões virtuais querendo assim parecerem mais reais do que o real?
Negar que o homem tenha pisado na Lua é o primeiro passo do que convenientemente chamamos de “pedagogia regressiva”; os próximos serão negar que o homem tenha chegado ao espaço (todos os astronautas, a começar por Yuri Gagárin, seriam meros atores em estúdios, afinal nunca tivemos e não temos tecnologia suficiente para tanto!), que a Terra gira em torno do Sol (afinal não sentimos que estamos em movimento!), que a Terra gira em torno do Sol (afinal o que vemos é o Sol girando em torno da Terra!), que a Terra seja redonda (afinal o chão é plano e as fotos de satélite são forjadas!) etc. Daà para que ressuscitem os alquimistas, as bruxas, as feiticeiras e os demônios e reinstalem os tribunais de inquisição do Santo OfÃcio é só um passo. Cabe assinalar ainda que muitos dos negadores da Lua são da mesma estirpe, quando não se filiam ao grupo dos extremistas que negam, em campanhas infamantes, que o holocausto judeu pelos nazistas e a destruição das cidades japonesas de Hiroxima e Nagasaki por bombas atômicas norte-americanas durante a Segunda Guerra Mundial tenham ocorrido (!), ignorando e desprezando a história e o sofrimento desses povos e conspurcando a memória das vÃtimas!
Aplicando a lógica estapafúrdia dos negadores da Lua, o site www.zerozen.com.br fez uma hilariante e impagável brincadeira, apontando “evidências cientÃficas incontestáveis” e chegando a triste e “convincente” conclusão de que de fato o homem jamais pisou na Lua pelo simples fato de que ela não existe! “Assim, todas as fotos do nosso satélite foram feitas em cavernas no Texas e contêm uma penca de impossibilidades cientÃficas. Uma análise simples pode ser feita quando se sabe que toda sombra provém de um foco emissor de luz. Ora, se isso é verdade, ela só pode ter uma direção. Se existirem diversas sombras, existem obrigatoriamente diversos pontos que emitem luz. Assim, nas fotos feitas na pseudo-Lua, os astronautas parecem banhados por vários emissores de luz. Como? Da Lua a única fonte de luminosidade possÃvel seria, é lógico, o Sol. Isso indica a presença de refletores de televisão iguais ao que se usam para gravar programas de auditório. Tudo não passou de uma farsa pela audiência. O desesperado Zeronauta pode argumentar: mas eu vejo a Lua todos os dias! Claro, mas isso pode ser facilmente realizado com espelhos gigantes ou até mesmo projetores holográficos. Reparem que as únicas pessoas que poderiam confirmar essas hipóteses, os astronautas, são escolhidos a dedo pelo governo norte-americano. Especulamos se os acidentes com os ônibus espaciais não aconteceram justamente para eliminar traidores que estavam prestes a revelar a verdade ao povo. à justo, entretanto, que se esclareça o por quê de tudo isso? Afinal de contas, toda boa conspiração deve ter um motivo. A razão é o bom e velho dinheiro. Pense, escalpelado leitor, quantos bilhões de dólares foram gastos com programas espaciais. Tudo para encobrir a verdade e garantir o lucro dos poderosos. Vale notar que as pessoas que acreditam na existência da Lua são os lunáticos, e que segundo consta no dicionário, é sinônimo de maluco, doido, pinel. Assim, é muito provável que o presidente FHC tenha descoberto a verdade por acaso. Para garantir o silêncio o presidente norte-americano ofereceu um lugar (no fundo e no corredor) do ônibus espacial para um astronauta brasileiro. Sabe-se lá até quando o mundo vai acreditar nessa farsa chamada Lua, que serve apenas para ajudar poetas ruins a começarem seus versos. O certo é que esta impoluta revista, com certeza, não vai viajar para o espaço. A verdade está lá fora uivando para a Lua, digo, para o espaço sideral”.
Eis as considerações finais do site, que parabenizamos pelo genial senso crÃtico e humorÃstico: “Um dos mais sólidos argumentos de quem defende a existência da Lua é que ela influencia as marés terrestres. O centro de testes da ZeroZen fez uma experiência que desmascara de forma inabalável essa fraude. Basta encher uma bacia de água e deixá-la na janela uma noite inteira de Lua cheia. Se houvesse mesmo essa força lunar haveria ondas na bacia. Não é preciso dizer que depois de 2 meses de testes não foi sequer registrado uma mÃsera marolinha. Outra tese firmemente defendida pelos lunáticos é que a Lua influencia no corte de cabelo das pessoas, ou seja, é preciso seguir o calendário lunar para ter uma juba de leão no lugar do couro cabeludo. Certo, certo. Todas as pessoas que tentam seguir esse método acabam mais carecas do que bola de bilhar. E tudo porque a Lua não pode causar qualquer influência simplesmente porque não existe!!”.
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Notas
1. Viana, André. HospÃcio virtual, São Paulo, Editora Brasport, 2002.
2. Ponte Preta, Stanislaw. Febeapá 1: primeiro festival de besteira que assola o paÃs, São Paulo, CÃrculo do Livro, s.d.
3. Todorov , Tzvetan. A conquista da América: a questão do outro, São Paulo, Martins Fontes, 1993.
4. Motoyama, Shozo. Galileo Galilei: um estudo sobre a lógica do desenvolvimento cientÃfico, São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Departamento de História, USP, 1971, p. 25.
5. Rossi, Paolo. O nascimento da ciência moderna na Europa, Bauru, Editora da Universidade do Sagrado Coração, 2001, p. 32.
6. Câmara, Lobo. A farsa da Nova Era: nem Apocalipse, nem Era de Aquário, São Paulo, Edição do autor, 1998, p. 80.
7. Baudrillard, Jean. à sombra das maiorias silenciosas: o fim do social e o surgimento das massas, 3a ed., São Paulo, Brasiliense, 1993.
8. IDEM, Mots de passe, Film conçu par Leslie F. Grunberg et realisé par Pierre Bourgeois; Montparnasse Productions, Centreville Telévision, 1999.
Para uma visão legitimamente céptica, recomendo os seguintes sites:
Ceticismo Aberto (de Kentaro Mori): www.strbrasil.com/ca/ (ver especialmente o artigo “A fraude na Lua”, na seção Referências/Lendas Urbanas)
Humor na Ciência: www.humornaciencia.hpg.ig.com.... (!Cuidado! Esta área do site trata do humor nas pseudociências!)
Salada MÃstica (de Lobo Câmara): www.salada.astroanedotario.com (Um site anti-esotérico)